quinta-feira, 30 de outubro de 2008

[Perfil] Daniela Thomas e Walter Salles

Com o lançamento neste ano de “Linha de Passe”, Daniela Thomas e Walter Salles dão prosseguimento a uma parceria em roteiros e direção de filmes que teve início há mais de dez anos, em 1995 com “Terra Estrangeira” e que é seguramente um dos filmes mais importantes do cinema brasileiro da década de 90. A dupla também realizou “O Primeiro Dia” em 1999, encomendado por uma TV francesa.

Além disso, em 2001, Daniela participou da construção de alguns diálogos de “Abril Despedaçado” de Salles. Ambos ainda fizeram juntos dois curtas, “Castanha e Caju Contra o Encouraçado Titanic” (2002) e o episódio “Longe do 16º Distrito” do projeto coletivo “Paris, te amo” (2006)

A relação Professional de Daniela e Walter começou em 1994, quando ela foi convidada a fazer a direção de arte de um especial sobre Tom Jobim e João Gilberto dirigido por Walter Salles e Boninho para a TV Globo. Nessa época, Daniela já havia construído uma carreira sólida na área de cenografia, figurinismo e iluminação, inclusive no teatro, com Gerald Thomas, com quem trabalhou na Companhia de Ópera Seca.

Filha do cartunista Ziraldo, Daniela nasceu em 1959. Formada em História, foi para Londres no início dos anos 80, onde assistiu aulas na International Film School. Na cidade inglesa, dirigiu o curta “The Others And I” (1981). Em 1995, ela participou da Quadrienal de Cenografia, Indumentária e Arquitetura Teatral de Praga, a maior exposição de cenografia do mundo. Lá, ela recebeu o prêmio máximo, juntamente com a delegação brasileira, encabeçada por Ruth Escobar e composta pelos cenógrafos José de Anchieta e J. C. Serroni.

Três anos depois, recebeu o prêmio Sharp por seu trabalho nos figurinos e cenografia da peça “Don Juan”. Daniela Thomas dirigiu dois curtas-metragens, “Adão ou Somos Todos Filhos da Terra” (1998) e “Armas e Paz” (2003). Roteirizou também “Menino Maluquinho 2: A Aventura” (1998), baseado no personagem criado por seu pai.

Walter Salles Júnior é filho do embaixador e banqueiro Moreira Salles, fundador do Unibanco. Nasceu em 1956 na cidade do Rio de Janeiro. Pensando seguir a carreira do pai, cursou economia na PUC-RJ. Depois de formado, foi para os Estados Unidos estudar comunicação audiovisual na Universidade da Califórnia, a mesma que formou George Lucas.

Salles começou a carreira na publicidade, realizando centenas de filmes comerciais. Dirigiu, ainda nos anos 80, séries televisivas, como “Conexão Internacional” e “Japão – Uma Viagem no Tempo” Em 1985, abre com o irmão João Moreira Salles, documentarista, e um terceiro sócio a produtora Videofilmes. Na produtora, realizou seu primeiro trabalho em curta-metragem, um documentário, “Krajcberg – O Poeta dos Vestígios” (1987), sobre o artista plástico emigrado da Polônia para o Brasil em 1948.

Desde então, Salles tem atuado, de forma intensa, tanto em direção e roteiro quanto em produção. Nesse último setor, tem atuado inclusive em filmes estrangeiros, como dois filmes do diretor argentino Pablo Trapero, “Nacido y Criado” (2006) e “Leonera” (2008). No Brasil, obras de relevo como “Cidade de Deus” (2002), “Madame Satã” (2002) e “O Céu de Suely” (2006) tiveram Salles como produtor ou co-produtor.

Na direção de longas-metragens, Salles tem uma das carreiras mais premiadas do cinema brasileiro recente. O filme “Central do Brasil” (1998), por exemplo, foi indicado a dois prêmios no Oscar (Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Atriz), ganhou o Leão de Ouro e o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Berlim e venceu o BAFTA de Melhor Filme Estrangeiro.

Fututro(s) do Brasil

Tomando como referência os três longas realizados pela dupla, é interessante observar a diferença de tom que caracteriza cada um desses trabalhos. Nesses treze anos que separam “Terra Estrangeira” de “Linha de Passe”, o Brasil mudou muito e as próprias condições do fazer cinematográfico igualmente se alteraram. Pra melhor? Sim, pode-se dizer que sim. E essa mudança se reflete nos filmes.

De uma visão desesperançada do futuro em 1995, temos em 1999 um futuro em aberto, que pode trazer melhorias, apesar das perdas que a vida impõe pelo caminho. Já em 2008, Daniela e Salles parecem sugerir que a vida é, sim, cheia de possibilidades promissoras. Precisamos apenas assumir a direção das coisas.
Numa entrevista dada recentemente ao Canal Brasil Walter Salles disse não se preocupar mais com números de bilheteria ou arrecadação. O importante é realizar filmes que possam, de uma maneira ou de outra, criar uma identidade brasileira, onde os brasileiros possam se reconhecer na tela. Em outras palavras, criar um imaginário nacional. Daniela e Salles, sem dúvida, contribuem com obras fundamentais para a constituição desse imaginário brasileiro.

Algumas críticas publicadas na internet a respeito dos longas feitos pela dupla:

http://www.contracampo.com.br/77/dvdvhsterraestrangeira.htm

http://www.contracampo.com.br/11-12/oprimeirodia.htm

http://www.revistacinetica.com.br/linhadebate.htm

E para quem não assistiu os filmes, aí vão os trailers / trechos dos três:

http://www.youtube.com/watch?v=q6awC712onM

http://www.youtube.com/watch?v=EhgFyCAVW00

http://www.youtube.com/watch?v=htb3pX-6CVA

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