O romance homônimo de Döblin é dividido em 9 ivros, mas veio posterior à história contada em folhetins no ano de 1928. Três anos mais tarde, é feita a primeira versão de Berlin Alexanderplatz para o cinema. Phil Jutzi dirige e o próprio Döblin roteiriza, no entanto, o filme mais antigo não passa dos 90 min.
Em entrevista contida no livro A Anarquia da Fantasia (Jorge Zahar, 1988), Fassbinder fala sobre o roteiro da série e o roteiro de Berlin Alexanderplatz para um futuro filme: “o seriado de TV procura estimular o espectador a ler, muito embora sua visão seja solicitada. O trabalho do filme é completamente diferente: para começar ele conta, de forma bastante condensada, uma estória que só posteriormente surte seu efeito, botando para trabalhar a consciência e a imaginação do espectador. Pode-se dizer que segui muito de perto o romance. E pode-se dizer também que existem modificações decisivas.”
Embora não tenha feito o filme, mas apenas a série, o diretor bávaro deixa bem claro, com a exteriorização dos diálogos interiores contidos no livro de Döblin, o distanciamento do personagem de si mesmo, fator que acaba contaminando o espectador e colocando-o num lugar de crítico ao invés de imergi-lo na trama por identificação com as personagens. Além disso, Fassbinder dá ênfase ao papel das mulheres em Berlin Alexanderplatz, coisa que não se verifica no romance de Döblin, já que o autor se atém a tradição romanesca do século XVIII, época em que as mulheres não são muito consideradas, exceto quando se tem vontade ou necessidade.
Mesmo com sua morte prematura aos 37 anos, Fassbinder deixou um grande legado ao povo alemão, ainda que precisasse mexer em cruentas feridas. Nem Berlin Alexanderplatz nem as demais películas do diretor alemão são suaves no que propõem, e estão determinadas em discutir o status de uma nação que intercalou fracassos e glórias em tão curto tempo.
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